O 25 de Abril de 1974 veio encontrar a dança contemporânea portuguesa num estágio de desenvolvimento bastante incipiente. A única estrutura de dança consolidada era o Grupo Gulbenkian de Bailado (Ballet Gulbenkian), sob a direcção do jugoslavo Miko Sparenbeck. Após o período revolucionário que se seguiu ao 25 de Abril, o Ballet Gulbenkian procura uma nova orientação artística. Nesse sentido a Fundação Calouste Gulbenkian convida Jorge Salavisa em 1977 para dirigir a companhia. Salavisa, que foi discípulo de Anna Máscolo e tinha feito o seu percurso na Companhia de Marquês de Cuevas e depois no New London Ballet, introduz na companhia uma mudança que levará à consolidação do reportório, a uma nova dinâmica e ao estabelecimento de uma profissionalização de referência para as décadas seguintes. O Ballet Gulbenkian constituiu um espaço de experimentação e formação de bailarinos e coreógrafos que formariam a primeira geração da designada Nova Dança Portuguesa (NDP): Olga Roriz, Vera Mantero, Margarida Bettencourt, Paulo Ribeiro, João Fiadeiro, Rui Nunes, Rui Horta, entre outros.
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Também em 1977 nasce a Companhia Nacional de Bailado (CNB), dirigida por Armando Jorge, ex-bailarino nos Grands Ballets Canadiens e no Ballet do XXéme Siécle de Maurice Béjart. A CNB, mais vocacionada para a ballet clássico, viu-se obrigada a contratar bailarinos estrangeiros, sintoma da falta de formação e da qualidade técnica dos bailarinos nacionais. A CNB evoluia entre um reportório clássico e moderno, entre Petipa e José Limón, cuja vinda a Portugal em 1977 deixaria uma forte impressão entre os profissionais de dança e no público.
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Na década de 80 muitos coreógrafos partem para a Europa e Estados Unidos, objectivando o desenvolvimento da formação, a aprendizagem de novas técnicas e contacto com novas estéticas. Em Portugal um grupo de bailarinos e coreógrafos experimentam linguagens autónomas novas, num movimente ao princípio discreto de que fizeram parte Elisa Worm, Paula Massano, e Madalena Victorino, mas que adquiriu repercussão nos anos seguintes. Os anos 80 assistiriam ainda a um acontecimento de relevância na dança contemporânea, especialmente na prespectiva da formação de público. Em 1985 Madalena Perdigão cria o serviço ACARTE que em 1987 inicia os encontros ACARTE por onde passam grandes nomes da dança internacional, que vão desde Pina Baush a Win Vandekeybus, Suzanne Linke, Anne Teresa Kersmaeker, e outros.
Nos anos 90 deu-se a explosão da nova dança, após um período formativo na década antecedente. Nestes anos regressaram os bailarinos e coreógrafos "estrangeirados" que tinham ido lá aprender novos processos de produzir dança. Com os novos saberes adquiridos, trouxeram a reflexão crítica, a discussão e debate, enfim, uma nova cultura coreográfica, mais transversal e interdisciplinar. Vários eventos assinalam o novo ciclo da dança contemporânea portuguesa como a Europália 91, uma mostra internacional dedicada a Portugal, onde alguns dos novos valores representaram Portugal, lançado assim a nova geração que mais tarde, na Lisboa 94 Capital Europeia da Cultura, se viria a confirmar.
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Ainda na década de 90 instituiram-se medidas que consolidaram o movimento: o estatuto do bailarino e do coreógrafo, o enquadramento legislativo da actividade, a atribuição de subsídios e apoios para a criação no âmbito da dança e a construção de equipamentos culturais que apoiaram a dança contemporânea: Fundação de Serralves, Culturgest e o CCB.
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Contudo, muitos problemas persistiram, a ponto de comprometerem o movimento de renovaçaõ da dança contemporânea. Não se criaram estruturas de produção continuada e de distribuição nacional e internacional, e fez-se sentir a ausencia de uma política para a dança desde 2001. Mesmo assim vão aparecendo novas entidades, como a REDE - Associação de Estruturas para a Dança Contêmporânea, que congrega mas de 20 companhias de dança, visando a reorganização dos agentes da dança para fazerem façe às vissicitudes, entre elas a falta de diálogo com o Estado.
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Bibliografia:
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CINTRA, Rui - Portugal Dança in Agenda Cultural da Câmara Municipal de Lisboa, n.º 209 (Abril de 2008). [Síntese do artigo na p. 10 -17]
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Para saber mais:
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SASPORTES, José; RIBEIRO, António Pinto - História da Dança. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1991
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