Imagem do flyer de divulgação do protesto do 12 de março. (Fonte: http://geracaoenrascada.wordpress.com/do-it-yourself/)
O dia 12 de março de 2011 foi diferente. Nesse dia, uma tarde de domingo que ameaçava chover, eu e mais uns 280 000 a 300 000 portugueses saímos à rua numa manifestação/protesto contra a situação social do país. Pensada e organizada por quatro jovens amigos (Alexandre de Sousa Carvalho, António Frazão, João Labrincha e Paula Gil) estiveram presentes todas as faixas etárias a dizer "Basta.!". Não um basta à precariedade laboral apenas, embora tenha sido esse o mote da convocatória (ver manifesto da convocatória ), mas um "Basta" aos políticos que se servem a eles próprios, um "Basta " à corrupção, um "Basta" à hipocrisia e irresponsabilidade política. A manifestação foi igualmente um grito coletivo por mais e melhor democracia, por um Portugal de todos e para todos, pelos valores e ética na política. A avenida encheu-se, tornou-se um rio de gente. Eu, com orgulho, direi sempre: estive lá. Uma manifestação de contornos anormais: não foi organizada por associações, sindicatos, ou partidos; tal nunca se viu em Portugal, pelo menos com aquela dimensão. O país todo queria vir à rua desabafar, expurgar frustrações, desilusões, enfim, reivindicar a felicidade.
Descida da Avenida da Liberdade no 12 de março. (Fonte: http://anapaulafitas.blogspot.pt/2011/03/o-povo-unido-jamais-sera-vencido.html)
E depois? Bem, depois vieram os grupos, expontâneamente organizados, a querer dar continuidade ao protesto, sim, porque protestar só não chega. Falou-se, discutiu-se, fervilharam ideias. Mãos no ar, ordem de trabalhos, propostas, votações! Senti um clima diferente, os jovens estavam (novamente) interessados pela política, em serem plenamente cidadãos. Também me juntei a um dos muitos grupos formados nos dias seguintes. Participei em reuniões semanais para discutir carta de princípios, grupos de trabalho, estratégias, ideias, etc... No dia 10 de abril, com outros sete companheiros, fui a Coimbra, para nos reunirmos com outros grupos "geração à rasca". Um do Porto, outro de Coimbra, outro de Leiria e nós, de Lisboa. A reunião foi tensa e inconclusiva mas acreditei que daria frutos para uma coordenação a nível nacional. Pensei: o que nos une é maior do que o que nos divide. Engano meu! A união não foi para a frente. O próprio grupo onde pertencia dividiu-se. Problemas de conteúdo, orientação, estratégia, ritmo. Pulverizou-se tudo. A partir de maio deixei de ir a reuniões. A minha vida pessoal não aguentava encontros todos os sábados, ainda mais improdutivos, embora conhecesse nessas ocasiões pessoas interessantes, das quais ainda sou amigo. Só por isso valeu a pena.
Recolha de assinaturas no âmbito da Iniciativa Legislativa de Cidadãos para a Lei contra a Precariedade no Festival de Músicas dos Mundo, em Sines, em julho de 2011. (fonte: http://fartosdestesrecibosverdes.blogspot.pt/2011_07_01_archive.html)
De tudo o que tenho conhecimento do que foi feito pelos agrupamentos de cidadãos nascidos após o protesto destaco duas medidas: primeiro, a Iniciativa Legislativa de Cidadãos por uma lei contra a precariedade. Esta medida vem dar uso a uma ferramenta de participação política dos cidadãos que até à altura só tinha sido usada uma vez e vai obrigar o parlamento a discutir o problema da precariedade laboral. Era a cidadania política a mover-se! Quis contribuir para a tarefa gigantesca de recolha das 35 000 assinaturas obrigatórias colaborando com outras pessoas numa recolha de assinaturas organizada pelas ruas de Torres Vedras. A outra medida foi a constituição da Iniciativa para uma Auditoria Cidadã à Dívida , não tanto pela conteúdo ou consequência política mas mais pela atitude da iniciativa., porque reforça a dinâmica de vontade de participação dos cidadãos nos assuntos do país. De resto, infelizmente, parecem-me os cidadãos "geração à rasca", "acampados", "ocupy" ou de outra nomenclatura excessivamente empenhados no grito, no protesto, na rua. Na minha opinião falta mais pensamento, reflexão, discussão e proposta.
Mas, não obstante a desilusão, a experiência de três meses de cidadão politicamente ativo foi formidável e espantosa. Inculcou a semente...