O Real Hospital de Todos os Santos: do terramoto à demolição (1755 - 1775) III

4 - O Hospital Real de Todos os Santos e a reconstrução da cidade
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Após o terramoto o Secretário de Estado, Sebastião José de Carvalho e Melo encomendou a vários arquitectos o projecto da reconstrução de Lisboa. O projecto n.º 1, de Pedro Gualter da Fonseca e de Francisco Pinheiro da Cunha, o projecto n.º 2, de Elias Sebastião Pope e de José Domingos Pope, o projecto n.º 3, de Eugénio dos Santos e Carvalho e de António Carlos Andreas e o projecto n.º 5, de Elias Sebastião Pope previam a construção do novo Hospital Real de Todos os Santos (HRTS) onde sempre esteve, no Rossio [21]. A planta da “nova” cidade de Lisboa elaborada pelos arquitectos Eugénio dos Santos e Carlos Mardel também incluía a construção HRTS no mesmo local. A intenção de se edificar o HRTS na praça do Rossio foi adoptada pelo poder político, que a 19 de Junho de 1759 expedia a seguinte instrução ao Desembargador Manuel José da Gama e Oliveira, inspector do bairro do Rossio, sobre a transacção de terrenos para o arranjo urbanístico:
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«INSTRUCÇÃO. Sobre as duvidas, que se devem evacuar, para se dar principio á Praça do Rocio
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[…] 12 – Para o Hospital, lhe fica: I o grande terreno, que avança para a parte do Rocio. 2. As frentes preciosas que ganha na Rua Nova, que se abre entre elle, e o Terreno de S. Domingos: e outra Rua, que corta pelo lado Meridional do mesmo Terreno do Hospital os sórdidos Becos da Roda dos Engeitados, e Bitesga. […]» [22].
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Esta instrução prova que até Junho de 1759 houve da parte do governo a vontade de edificar o novo hospital no Rossio. Essa vontade foi até ao ponto de preparar as permutas de terrenos afectos ao HRTS e respectivas compensações para o novo ordenamento urbanístico da praça do Rossio. Houve porém uma alteração de plano, pois o HRTS nunca chegou a ser construído. Qual o motivo? Não o sabemos, mas pensamos que esteja eventualmente relacionado com a devolução de grandes edifícios anteriormente pertencentes aos jesuítas, na sequência da expulsão destes em 1759. Apesar do colégio jesuíta de Santo Antão ter sido doado ao HRTS apenas em 1767, nada impede que antes dessa data estivesse prevista a readaptação desse prédio a infraestrutura hospitalar. Razões financeiras poderiam estar na base dessa decisão. A “saúde” económica do HRTS nunca foi boa, sobretudo após o terramoto, apesar das tenças recebidas da coroa. A readaptação do colégio jesuíta certamente era uma opção bem mais barata do que a construção de raiz do hospital.
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Finalmente em 1775 o antigo Colégio de Santo Antão recebe os doentes do HRTS. O novo hospital, para além das instalações, recebe um novo nome: Hospital de S. José, homenageando-se desse modo o rei D. José I. As instalações onde tinha funcionado até esse ano o HRTS foram demolidas para dar lugar à actual Praça da Figueira, no reinado de D. Maria I.
Reconstituição em maquete do Hospital Real de Todos os Santos antes do terramoto de 1755. Actualmente a maquete encontra-se no Hospital S. José.
(fonte: Hospital Real de Todos os Santos: séculos XV a XVIII. Lisboa: Museu Rafael Bordalo Pinheiro, 1993, p. 60.)
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[21] Hospital Real de Todos-os-Santos: séculos XV a XVIII. – Lisboa: Museu Rafael Bordalo Pinheiro, 1993, p. 59.
[22] Collecção das Leis, Decretos, e Alvarás, que comprehende o feliz reinado del Rei Fidelíssimo D. José I. Nosso Senhor desde o anno de 1750 até o de 1760, e a Pragmática do Senhor Rei D. João o V. do anno de 1749 . – Lisboa: na Officina de Antonio Rodrigues Galhardo, 1797, tomo I.

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