A 8 de Abril de 1780 foi eleito Ministro Geral da Congregação da Terceira Ordem da Penitência de S. Francisco frei José de Jesus Maria Mayne (1723-1792), homem de riqueza, proveniente da herança familiar e com acesso ao topo do poder real na qualidade de confessor do rei consorte D. Pedro III. Era também um homen de cultura científica, pondo ao dispor dela parte dos rendimentos advindos do seu património e do serviço de confessor real quando tomou posse do cargo de Ministro Geral da Congregação. Desenvolveu a biblioteca do Convento de Nossa Senhora de Jesus com a compra de muitos livros e adquiriu instrumentos de Física e «cousas raras e de História Natural» para «milhor aperfeiçoar o nosso Museu», ou seja, o museu do Convento de N. S.ª Jesus (CARVALHO, 1993, p. 9, 10).
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O museu, de fundação anterior a 1780, viu ampliadas as colecções de temática vária. No século XVIII os museus, também conhecidos por Gabintes de Curiosidades, não se dedicavam em exclusivo a uma única área do saber. O coleccçionismo setecentista congregava no mesmo espaço objectos relacionados com a História do Homem, desde artefactos arqueológicos (moedas, estátuas, etc...), a peças de arte, livros, desenhos, mapas, e peças da História da Natureza (fósseis, animais e plantas conservados, conchas, minerais, etc..). No museu do Convento de N. S.ª de Jesus, a par da colecção de medalhística e numismática, havia a colecção de pintura sobre tela e a de História Natural. Foi particularmente no domínio da História Natural onde a acção do frei José Mayne mais se fez sentir, ao adquirir inúmeras peças. Por exemplo, em 1788 recebe do negociante hamburguês Nicolau Kopke três caixas da Rússia em que uma tinha pássaros e animais secos, outra uma coluna de minerais do Cáucaso e a terceira 89 embrulhos de minerais da Sibéria. (BRIGOLA, 2003, p. 417, 418).
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Frei José Mayne, Ministro Geral da Congregação da Terceira Ordem da Penitência de S. Francisco entre 1780 e 1792, Confessor de D. Pedro III e sócio da Academia das Ciências de Lisboa. Durante os 12 anos de governo da Terceira Ordem da Penitência de S. Francisco, aumentou bastante a colecção de História Natural do museu do Convento N. Sr.ª de Jesus e preparou a instituição de uma escola pública de História Natural. (Fonte: Academia das Ciências de Lisboa. Lisboa: Academia das Ciências de Lisboa, 1999, p. 24)
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No ano da sua morte, em 1792, depois de ter conseguido um importante espólio para o museu, Mayne pretende instituir uma aula pública de História Natural a ser leccionada no Convento de N. Sr.ª de Jesus. É esta a vontade expressa no Requerimento a S. M. concernente á doação do Gabinete de História Natural, Pintura, e Artefactos, assim como de bens para instituir uma escola publica e, desenvolver a Livraria do Convento de N. S. de Jesus de Lisboa. Preocupado com a proliferação do ideal revolucionário de além Pirineus, o religioso franciscano queria ensinar a «Existencia de Deos, a sua Sabedoria, Providencia, Bondade, e mais Atributos» através do «Estabelecimento de huma Escola publica com huma Cadeira de Historia Natural Theologica, em que se ensine a Sciencia da Historia Natural.» No âmbito do iluminismo católico, visava combater as doutrinas dos «Atheistas, Pulitheistas, e mais Incredulos» (BRIGOLA, 2003, p. 421; CARVALHO, 1993, p. 11).
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Pelo método pedagógico baseado na observação e experimentação deveriam os professores demonstrar a harmonia da fé no Deus Criador com o conhecimento científico da Natureza. No entanto, Mayne sabia que o convento não era o local mais vocacionado para administrar tal ensino, porque, como dizia, «parece moralmente impossivel que todos os Padres Geraes tenhão a necessaria efficacia, propensão para perpetuar huma Sciencia, cujo ensino não está em uso dentro dos claustros.» (BRIGOLA, 2003, p. 421, 422). Assim, entrega o ministério da escola pública de História Natural à Academia das Ciências de Lisboa (ACL), instituição orientada para tal ensino pois leccionava também uma aula de Mineralogia na sua sede, o Palácio do Poço dos Negros. A aula funcionou com intermitências até a ACL se instalar definitivamente no extinto Convento de N. S.ª de Jesus em 1834. A partir desse ano passa a denominar-se Aula Maynense ou mais vulgarmente Instituto Maynense. Até ao ano lectivo de 1849/50 apenas ensina Zoologia, depois e até 1919, lecciona igualmente Física, Química, Geografia Física, Geologia, Mineralogia e Botânica (CARVALHO, 1993, p. 13, 14).
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Resumindo, frei José Mayne realizou uma relevante acção educativa através do desenvolvimento da colecção de História Natural do museu do Convento de N. Sr.ª de Jesus, colecção que passou para a posse da ACL em 1834, quando esta ocupou as instalações do antigo convento. O trabalho educativo de José Mayne fez-se sentir ainda na instituição da aula pública de História Natural, deixando tudo preparado para que tal projecto arrancasse. O ensino da História Natural, igualmente a cargo da ACL perdurou até 1919.
Bibliografia:
BRIGOLA, João Carlos Pires (2003) - Colecções, Gabinetes e Museus em Portugal no século XVIII. Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa
CARVALHO, Rómulo de (1993) - O material didáctico dos séculos XVIII e XIX do Museu Maynense da Academia das Ciências de Lisboa. Academia das Ciências de Lisboa, Lisboa
1 comentário:
Olá Rui!
Indico-te algumas obras gerais. Depois, se quiser algo mais específico, basta me escrever.
História geral da civilização brasileira. São Paulo, Difusão Européia do Livro. Vários tomos!
Está coleção começou sob a direção de Sérgio Buarque de Holanda e se encerrou sob a direção de Boris Fausto. Ainda é uma referência importante para uma visão de conjunto.
FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo, Edusp, 2003. (excelente manual. Não aborda aspectos culturais. Muito bom para análise política).
História da vida privada no Brasil. São Paulo, Companhia das Letras, 1997 (vários autores, 4 volumes) Excelente para aspectos culturais e vida em sociedade.
Um abraço, Daniel.
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