Biblioteca do antigo Convento N. S. Jesus, actualmente o Salão Nobre da Academia das Ciências de Lisboa.
(Fonte: Academia das Ciências de Lisboa. ACL: Lisboa, 1999, p. 14)
Depois, em 1792, por iniciativa do douto Fr. José Mayne, passou a leccionar-se no Convento de N. S. de Jesus de Lisboa uma aula pública de História Natural com o fim de combater as ideias “Atheístas, e Polyteistas” emanadas do jacobinismo iluminista comprovando-se a “Existência de Deos, a sua Sabedoria, Providencia, Bondade, e mais Atributos” pelo estudo da “Sciencia da Historia Natural”. Provavelmente a biblioteca do Convento de N. S. de Jesus estaria à disposição do público estudantil, senão mesmo de outros leitores (BRIGOLA, 2003, p. 421).
Outro ponto de leitura acessível ao público, pelo menos em 1798, era biblioteca do Mosteiro de S. Vicente de Fora, uma das principais bibliotecas de Lisboa. O botânico alemão Heinrich F. Link, de visita a Portugal, expressou-me relativamente ao acesso a esta biblioteca do seguinte modo: «Uma terceira biblioteca [as outras bibliotecas eram a RBPC e a biblioteca do Convento N. S.ª de Jesus], no convento de S. Vicente de Fora, não é com efeito pública, mas para a poder frequentar regularmente basta ser apresentado.» (LINK, 2005, p. 139). Segundo as memórias de José Liberato Freire de Carvalho, monge do mosteiro em 1807, muita «gente de certa ilustração” frequentava a biblioteca, regularmente fornecida de livros vindos do estrangeiro pelo livreiro Rey.» (FREIRE, 1982, p. 23).
Embora pouco numerosas, estas referências dão uma leve impressão de que a leitura pública começa a despontar lentamente em Portugal no século XVIII e dentro do círculo das bibliotecas eclesiásticas. Os antigos fundos bibliográficos dos conventos e mosteiros ficam à disposição de investigadores e curiosos leigos. Tendo a cidade de Lisboa dezenas de grandes institutos religiosos, equipados com recheadas bibliotecas, surge na capital uma geografia da leitura pública ou semi-pública ainda antes do aparecimento da primeira biblioteca essencialmente pública em 1796.
Bibliografia:
BRIGOLA, João Carlos Pires - Colecções, Gabinetes e Museus em Portugal no século XVIII. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2003
CARVALHO, José Liberato Freire de - Memórias de José Liberato Freire de Carvalho, 2.ª ed., introd. João Carlos Alvim. Lisboa: Assírio e Alvim, 1982
LINK, Heinrich Friedrich - Notas de uma viagem a Portugal e através de França e Espanha, trad., introd., e notas de Fernando Clara. Lisboa: Biblioteca Nacional, 2005
MENDONÇA, Joachim Joseph Moreira de – Historia Universal dos Terremotos, que tem havido no Mundo, de que ha noticia, desde a sua creaçaõ até o seculo presente. Com huma narraçam individual do Terremoto do primeiro de Novembro de 1755, e noticia verdadeira dos seus effeitos em Lisboa, todo Portugal, Algarves, e mais partes da Europa, Africa, América, aonde se estendeu: e huma dissertaçaõ phisica sobre as causas geraes dos Terremotos, seus effeitos, differenças, e Prognosticos; e as particulares do ultimo. Lisboa: na Offic. de Antonio Vicente da Silva, 1758
Plano e Regulamentos dos Estudos para a Congregação de S. Bento de Portugal: Primeira parte. Lisboa: na Regia Officina Typografica, 1789
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