A pesca do coral em Portugal

Quando o académico da Academia de Ciências de Lisboa e professor de Física na Universidade de Coimbra, Constantino Botelho de Lacerda Lobo (1756-1821) apresentou a Memória sobre a decadência das pescarias em Portugal, editada em 1812 no tomo IV das Memórias Económicas da Academia das Ciências de Lisboa, argumentava que um dos indicadores da crise da pesca era o abandono de certo tipo de pescarias que no passado tinham sido praticadas pelos pescadores portugueses, como a pesca da baleia, do bacalhau e do coral.
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De todas as tipologias de pesca, a do coral era a que mais se distinguia pelo método. O pescador coraleiro mergulhava até ao fundo marinho e com o recurso a instrumentos de corte e raspagem retirava o coral para dentro de cestos que eram içados até à superfície, para dentro das embarcações. O coral foi usado no comércio da Índia e em Portugal a sua exploração se confinou à costa algarvia , havendo notícias históricas do seu exercício no século XV. Na mencionada memória económica, Constantino Botelho de Lacerda Lobo refere que no reinado de D. Afonso V, um tal Carlos Florentim (florentino), residente em Lagos «retirara muito coral» e não quisera pagar o dizímo deste ao Cabido da Sé de Silves em 1462. Depois, e até ao século XVIII, escasseiam elementos sobre a pesca do coral (LOBO, 1991 [2.ª ed.], p.257). Em 1711 parece estar definitivamente abandonado, porque no alvará real dado a Vicente Francisco para reintroduzir no Algarve a extracção do coral, se diz «[...] que nas costas do reino do Algarve houvera antigamente pescaria do coral, a qual se perdera por incúria dos homens, ou por falta de cabedais [...]». A licença dada ao investidor lisboeta Vicente Francisco foi por três anos, desconhecendo-se qualquer registo de continuidade desta pescaria para além desse tempo (LOBO, 1991 [2.ª ed.], p. 258).
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As poucas referências sobre a pesca do coral durante um período tão largo pode indiciar uma pouca adesão entre as comunidades piscatórias. Seria porventura arriscada e dispendiosa, comparativamente a outras pescarias. Por outro lado, no Mediterrâneo, em particular no Levante espanhol, Catalunha, Baleares, sul de França e Itália, o coral foi explorado com mais intensidade e até ao século XIX, circunstância provocadora, no mínimo, de uma certa concorrência ao coral português.
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Pescadores coraleiros em plena actividade. Os submersos manipulam os instrumentos de extração do coral (coraleiras), enquanto os que estão à superfície puxam as coraleiras com os cestos carregados de coral. Gravura do século XIX. (Fonte: Drassana: revista del Museu Maritim, n.º 2 (1994). Barcelona: Consorci de les Drassanes de Barcelona, p. 22

.Pormenor de uma arte coraleira segundo o Diccionário Histórico de las Artes de la Pesca Nacional (1791-1795), de A. Sáñrz Reguart. Fonte: Drassana: revista del Museu Maritim, n.º 2 (1994). Barcelona: Consorci de les Drassanes de Barcelona, p. 18

Bibliografia:

LOBO, Constantino Botelho de Lacerda (1991 [2.ª ed.]) - Memória sobre a decadência das pescarias de Portugal in Memórias Económicas da Academia Real das Ciências de Lisboa (1789-1815). Lisboa: Banco de Portugal, tomo IV

1 comentário:

Anónimo disse...

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