Torres Vedras, capital de distrito?

Na conclusão da sua dissertação de licenciatura em Geografia apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa em 1970, entitulada Torres Vedras, a vila na região, Teresa Margarida Barata Salgueiro apresenta as vantagens sócio-económicas para Torres Vedras caso fosse a sede administrativa de um território que englobasse os concelhos circunvizinhos. Verificava-se em Torres Vedras a influência da proximidade a Lisboa, nomeadamente ao nível da atração do emprego e do comsumo de determinados produtos. Torres Vedras estava crescentemente inserida na àrea de atração de Lisboa, a ponto de se recear que em duas décadas se transformasse numa zona suburbana descaracterizada, dormitório da capital , sem vida prória. Tornar Torres Vedras sede administrativa de zona norte do distrito de Lisboa, no âmbito da reforma administrativa marcelista, era interpretada pela autora como um factor atenuatório da influência de Lisboa, quer pela criação de postos de trabalho administrativos, quer pela atração que Torres Vedras exerceria sobre o território tutelado. Vejamos como a autora expõe o seu ponto de vista:
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«Fala-se muito que da Reforma Administrativa que está em curso, vai sair a elevação da vila de Torres Vedras a cidade e, mais do que isso, a capital de distrito. A necessidade de libertar da tutela de Lisboa alguns concelhos periféricos, para só fazer depender da cidade aqueles que lhe estão intimamente ligados, levaria à criação de um distrito autónomo constituido à custa dos concelhos mais setentrionais do distrito de Lisboa. Parece que se põe como hipótese de capital desse distrito Torres Vedras ou Vila Franca de Xira. Estando Vila Franca de Xira muitíssimo ligada a Lisboa, certamente se porá de lado a ideia de a transformar numa capital de distrito, ficando assim reservada essa missão à vila de Torres. [...].»
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Distrito de Lisboa. (Atlas Geográfico Verbo, Lisboa: Editorial Verbo, 1979)
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«A sua passagem a capital dar-lhe-á um notável incremento; haverá um grande aumento dos serviços públicos e, portanto uma série de empregos que chamarão gente, determinando assim a dilatação de áreas residenciais e, por indução, a dilatação do próprio sector comercial e dos serviços (médico, bancário, escolar, entre outros). Se isso poderá, durante uns tempos, servir de tampão não vai determinar o aumento da distância que a separa de Lisboa. Com a aproximação, em tempo, de Lisboa, aumentará a dependência da vila e das terras que lhe ficam asul, face à capital. Para além das deslocações ocasionais frequentes da sua população a Lisboa, assistir-se-á certamente a um grande incremento das migrações diárias para a capital. Assim só ficarão na dependência da vila as terras a norte, porque o sul cada vez mais terá tendência a escapar-se em direcção a Lisboa. Podemos mesmo assistir a uma distorsão, que consiste em populações muito ligadas a Lisboa, pelo emprego, viagens ocasionais, etc., serem obrigadas a utilizar Torres por motivos administrativos [...].» (SALGUEIRO, 1970, p. 210 -212).
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Bibliografia:
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SALGUEIRO, Teresa Margarida Barata (1970) - Torres Vedras, a vila na região: dissertação de licenciatura em geografia, 2 vols. dactilografados.
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